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Dúvidas frequentes sobre o consumo de bebidas alcoólicas x fígado.
Autor: Dr. Marlone Cunha-Silva, MD | Publicado em 01/05/2024
Como quantificar o consumo do álcool? Qual é a quantidade capaz de causar cirrose? Consumir bebidas alcoólicas apenas nos finais de semana traz menos risco para o fígado? Tomar só cerveja é melhor do que beber destilados?
Homens e mulheres têm o mesmo risco de doença hepática associada ao álcool?
O consumo de bebidas alcoólicas em excesso está associado a centenas de doenças e é responsável por cerca de 3 milhões de mortes ao ano no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) – isso equivale a mais de 5% do total de óbitos. No fígado, o álcool pode causar hepatite aguda, esteatose hepática, fibrose, cirrose e câncer.
Para pessoas sem fatores de risco e sem doença hepática, a OMS considera aceitável o consumo de até 30g de etanol por dia (ou 210g por semana) para indivíduos do sexo masculino e até 20g por dia (ou 140g por semana) para o sexo feminino.
E como fazer essa conta? Existe uma fórmula:
Volume ingerido da bebida (mL) x teor alcoólico (%) x 0,8
__________________________________________________________________________ = gramas de etanol
100
Exemplo: uma lata de cerveja (350mL) com teor alcoólico 5% tem 14g de etanol. Usando a fórmula: (350x5x0,8)/100 = 14.
Quando estamos falando de lesão hepática induzida pelo álcool, não importa o tipo de bebida e sim a carga de etanol ingerido, ou seja, tomar uma lata de cerveja é o mesmo que tomar uma taça de vinho ou uma dose de 40mL de cachaça.
Para pequenas quantidades de etanol, não importa se o consumo é diário ou semanal, ou seja, tomar 1 taça de vinho diariamente é equivalente a tomar 7 taças durante o final de semana, entretanto, o consumo de grande volume de álcool em um curto intervalo de tempo tem maior risco de intoxicação.
A literatura diz que o consumo de cerca de 80g de etanol por dia por 10 anos é suficiente para causar cirrose no sexo masculino (60g no sexo feminino). Isso equivale a cerca de 3 garrafas (ou 5 latas) de cerveja ou 5 taças de vinho ou 5 doses de cachaça diariamente por 10 anos. É claro que a evolução para cirrose depende de vários fatores além da carga etílica, como suscetibilidade genética, presença de outros agressores hepáticos, como obesidade, hepatites virais e uso de medicamentos, suplementos, chás ou ervas com potencial hepatotóxico. História familiar de cirrose é um aspecto importante e deve ser valorizada.
Vale ressaltar que a doença hepática alcoólica usualmente só causa sintomas nas fases tardias, ou seja, quando já existe fibrose hepática acentuada ou cirrose. Procure um hepatologista e cuide da saúde do seu fígado.
Referências Bibliográficas
- Alcohol. Fact sheets. World Health Organization. Disponível em https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/alcohol, acessado em 26/04/2024
- Mitchell MC & Szabo G. Alcoholic Liver Disease. In: Schiff ER, Maddrey WC, Reddy KR. Schiff´s Diseases of the Liver, 12th ed. John Wiley & Sons Ltd, 2018
- Subramaniyan V, Chakravarthi S, Jegasothy R, et al. Alcohol-associated liver disease: A review on its pathophysiology, diagnosis and drug therapy. Toxicol Rep. 2021;8:376-385.
Marlone Cunha – CRM SP 126444
Hepatologista e Gastroenterologista – RQE 42245/422451
Doutor em Ciências Médicas (FCM/Unicamp)